A simples crítica à racionalidade em Mil Novecentos e Oitenta e Quatro de George Orwell é mesmo ultrapassada, chegando de certa forma a atingir extremos. 1984 é um assustador retrato de uma Inglaterra futura subjugada às mãos de um tirano, o Big Brother, caracterizado por um rosto com um farto bigode negro e um olhar sempre atento e punidor.
Sociedade na qual todos são constantemente vigiados pelos sempre presentes monitores e câmeras de vigilância, 1984 é o prelúdio assustador do que seria uma sociedade totalmente governada pela razão. Na verdade, a sociedade de Oceânia, uma das três partes em que o mundo aparece dividido, em 1984, não usa a razão como um meio (como tem sido até aqui), mas como um fim.
A eterna guerra com um inimigo distante e a permanente alienação da massa maioritária da população (os proles) .
Os três slogans do Partido, GUERRA É PAZ, LIBERDADE É ESCRAVATURA, IGNORÂNCIA É FORÇA, típicas maquinações do sistema de pensamento do Partido - o doublethink – levam os habitantes a seguir cegamente a vontade do Partido personificado pelo mítico Big Brother o qual, supostamente, ditaria as regras.
O Partido, monstro abstracto personificado na imagem de uma existência sempre presente a que todos prestam “vassalagem” e que todos admiram, mantém o seu poder justamente através do controlo da memória das proles. Para tal, o partido recorre a duas técnicas fundamentais. A primeira é o doublethink, disciplina feroz mediante a qual cada um é levado a aceitar incondicionalmente tudo aquilo que o Partido diz.
« Doublethink significa a capacidade de albergar no espírito simultaneamente duas convicções contraditórias, aceitando-as a ambas. (…) Este processo tem de ser consciente, ou não seria levado a cabo com suficiente precisão, mas também inconsciente, ou acarretaria um sentimento de falsidade e portanto de culpa. O doublethink é a pedra de toque do Ingsoc, uma vez que a atitude fundamental do Partido consiste em recorrer à fraude consciente, mantendo ao mesmo tempo a firmeza de propósitos que acompanha a honestidade absoluta. Dizer mentiras deliberadas, nelas acreditando com sinceridade, esquecer qualquer facto que se haja tornado incómodo, para depois, quando de novo necessário, o arrancar ao esquecimento enquanto for preciso e nunca por mais tempo; negar a existência da realidade objectiva continuando a levar em conta a realidade negada - tudo isto é absolutamente indispensável. (...) Porque o segredo da governação consiste em combinar a crença na nossa própria infalibilidade com a capacidade de aprender com os erros cometidos.»
A segunda técnica usada pelo Partido para controlar e limitar o pensamento humano é a criação de uma nova língua – novilíngua. O Partido consegue desta forma aumentar o seu poder fazendo desaparecer conceitos inconvenientes, que pudessem por em dúvida a sua eficácia, questionar a sua legitimidade, por em questão as suas regras e mecanismos.
« Não vês que a finalidade da novilíngua é precisamente restringir o campo do pensamento?
Acabaremos por fazer com que o thoughtcrime seja literalmente impossível, pois não haverá palavras para o exprimir. Todos os conceitos de que possamos ter necessidade serão expressos, cada um deles, exclusivamente por uma palavra, de significação rigorosamente definida, sendo eliminados e votados ao esquecimento todos os seus subsidiários.»
projecto .
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O doublethink e a novilíngua são técnicas que abordadas no livro nos possibilitam uma interpretação e transformação para construção de um conjunto de elementos, visuais como a imagem em video e/ou fotografia, assim como sonoros, que aquando da sua adequação aos métodos e meios em abordagem, nos podem proporcionar uma integração e envolvência na intervenção a realizar.
Unknown disse...
3/16/2008 9:38 da tarde